Monarquia funciona porque humaniza

É irracional. É sentimental. É absurda. Por vezes é completamente tola. E no entanto, a monarquia funciona. Porque humaniza aquilo que, de outra forma, poderia parecer distante e impessoal. As pessoas que consideram muito difícil aderir a uma lei do Parlamento, uma diretiva de Bruxelas, um jurista ou um secretário permanente (tudo peças essenciais da governação), sentem empatia com a Família Real. Partilhamos as suas tragédias, alegrias e dramas familiares.

Família Real Portuguesa

Apenas um grupo fica de fora: os intelectuais. Sejam de esquerda ou de direita, sempre desprezaram a instituição da monarquia. Não há maneira de ela alguma vez caber nos seus grandiosos esquemas abstratos de transformação da sociedade.

O dramaturgo George Bernard Shaw desdenhou da monarquia, considerando-a uma “alucinação universal”, que em breve desapareceria. H.G.Wells, escritor radical, advertiu que a monarquia tinha tanta possibilidade de sobrevivência “como o Lama do Tibete de se tornar Imperador desta terra”.

Estas previsões pareciam perfeitamente razoáveis. No início do século passado, as antigas monarquias da Europa eram feudais, despropositadas e completamente fora de sintonia com o espírito democrático da época. Aliás, os críticos estavam prestes a ver brutalmente provado o seu ponto de vista. Poucos meses depois da coroação de Jorge V, Portugal uma das mais antigas monarquias da Europa cai com um golpe revolucionário e nos anos subsequentes muitas das grandes dinastias foram destruídas. O arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do Império Austro-Húngaro, foi morto a tiro em Sarajevo, ao lado da esposa, apenas três anos mais tarde. O primo do Rei, o Kaiser Guilherme II, foi votado ao exílio, no final da Primeira Guerra Mundial. Os Romanov, na Rússia, foram assassinados.

Mas a Monarquia manteve-se e adaptou-se deixando para trás as revoluções redentoras preencherem os livros de História

Caso Inglês

Tony Benn, o mais distinto republicano da Grã-Bretanha, costuma perguntar se depositaríamos a nossa confiança num comandante de voo ou num médico hereditários. Não há resposta para esta pergunta. A instituição é ilógica.

Mas isso não significa que a monarquia não tenha um propósito. Pelo contrário: ela ocupa o espaço público que de outro modo seria tomado por partidos políticos rivais. A alternativa à Rainha, como chefe de Estado, seria provavelmente uma Thatcher ou um Tony Blair, ambos divisionistas e faccionais.

A presença de uma Família Real no centro dos assuntos nacionais é uma das principais razões para a extraordinária estabilidade política da Grã-Bretanha nos últimos 200 anos. Durante a Segunda Guerra Mundial, o escritor socialista George Orwell reconheceu-o, quando observou que a presença da realeza tinha ajudado a salvar a Grã-Bretanha do fascismo, durante a crise dos anos trinta.

Os países monárquicos ganham identidade nacional, sendo Juan Carlos considerado o “pai da democracia espanhola”, Alberto II o símbolo da unidade ameaçada da Bélgica, sem esquecer os Grimaldi, “sem os quais o Mónaco seria provavelmente há muito uma província francesa”.

This entry was posted in Uncategorized. Bookmark the permalink.

2 Responses to Monarquia funciona porque humaniza

  1. Madrepérola says:

    Caro Grifedes: porquê que não se concebe que há ainda um sistema melhor: nem um, nem o outro. Monarquia sim, mas totalmente diferente? Um sistema de acordo com um ser humano mais avançado?
    Tenho que discordar de si: sugiro aprofundamento sobre a crueldade, ganância e barbaridade que desde sempre tem sido praticada, também nos impérios monárquicos. Ainda estamos longe de estar conscientes da História da Humanidade.
    E a Coroa de Inglaterra teve Guerra com quais todos os países do Mundo, praticando uma política de roubo, mentira, imoralidade.
    Mal de nós se a Humanidade não pudesse aspirar a algo superior.
    Os sucessos dos países monárquicos, nada têm a ver com as razões de serem monárquicos, mas com outras razões. Também os EUA têm “sucesso”, não sendo Monárquicos.
    Tendo nós a oportunidade de escolher e formar algo de novo, que sejam sábios para saber dar uso à oportunidade oferecida. “Agora é permitido”

    • grifedes says:

      Cara Madrepérola, também gostava de uma revolução assim mas ainda padecemos de muitos defeitos que nos impedem essa “evolução”. A Monarquia não é perfeita nem deve aspirar a sê-lo, basta que seja um forte impeditivo para os gananciosos(e todo o ganancioso acarreta consigo um criminoso em potência) e que represente no topo aquilo que nós todos temos de bom e de mau.A Monarquia é a sociedade no seu aspecto humano (diferente da utopia da perfeição) actual…se é mau é porque ainda temos caminho a percorrer, mas não nos iludamos com utopias de eleição dos “melhores” porque eles não existem: existe sim é boa propaganda como o caso dos EUA que longe de serem um “sucesso” lá vão mascarando com propaganda as misérias e atrocidades que cometem…todos falam no Lincoln que “aboliu” a escravatura (curiosamente teve escravos na própria casa muito depois da guerra civil) mas ninguém fala em D. Luís que aboliu a pena de morte antes do resto do mundo civilizado ou na abolição da escravatura pelo Marquês de Pombal no sec XVIII (infelizmente a lei não abrangeu as colónias) nem nas escravas brancas (que existiam) que a Catarina de Bragança (sec XVII) comprou para salvar da escravatura (todas foram incluidas no testamento para salvaguardar a sua sobrevivência)…

Leave a comment